"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Procura-se Director(a) de Marketing

Black is beautiful


Centro Comercial bem localizado, no centro da capital, com centenas de lojas e milhões de clientes procura Director(a) de Marketing.
Exige-se: cérebro funcional, quarta classe completa, compreender a diferença entre chato e imbecil.
Oferecem-se salário competitivo e regalias em vigor.
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Declarações da (felizmente já ex-)Directora de Marketing do Amoreiras ao Público de 25 de Setembro:

"Tivemos uma quebra de 12 por cento, nos primeiros tempos. Mas depois
estacionámos nos três por cento", afirma a directora de marketing da
Mundicenter, empresa que explora o centro, acrescentando que se verificou
simultaneamente uma "melhoria" dos clientes.

Para dar um exemplo dessa mudança, Maria Galvão Sousa usa o barómetro
da raça; e desse modo, voluntariamente ou não, alimenta o estereótipo
ideológico e social por vezes associado aos consumidores da Amoreiras.
"Nós tínhamos pessoas de cor, é chato dizer, e eu não tenho nada contra
as pessoas de cor. E deixámos de ter
", afirma, concluindo: "Portanto,
esta quebra de três por cento até foi bem vinda
".


Spice Boy

Dungo


Bem-vindo à blogosfera, Mr. Dungo!

Boys Night Out

Transamerica Pyramid


Há alguma coisa pior do que despedidas de solteiro? Como se não bastasse a seca da boda em si, as prendas, as tias embeiçadas e os tios com os copos, ainda tem de haver sessões preparatórias de tortura? Mas que mania tem esta gente de casar. Querem casar, casem. Vão ao registo, assinam e mandam um email: olha, hoje casámos. Correu tudo bem e vamos agora para a lua-de-mel. Perfeito, divirtam-se.
Pelo menos não é em Las Vegas e juraram-me que não ia haver meninas a saltar dos bolos. A ver vamos. Depois conto, se me lembrar.

quinta-feira, setembro 29, 2005

The Mex Files - Fiesta

Sol


É o momento perfeito: depois de todas as terreolas de Portugal terem tido as suas festas anuais, quem ainda não tiver ouvido pimba suficiente, pode vir a Mexicali onde se inauguraram as Fiestas del Sol com direito a tudo:
ele é a Señorita Fiestas del Sol - que já foi eleita e dá pelo nome de Dayanara Ramírez para quem quiser estar a par da carreira fulgurante que se vai, sem dúvida, seguir; ele é bailaricos, exposições e muitos tacos; e ele é ainda concertos de grandes estrelas "de dimensión nacional e internacional". Ah, pois é! Ainda ontem estiveram cá os Sussie 4. E eu juro que me lembro de uma (ou uns?) Suzy 4, mas não consigo encontrar provas da sua existência na net. E os mexicanos que insistem que estes Sussie 4 são originais!

quarta-feira, setembro 28, 2005

The Mex Files - Terminator

Governator


Apaguem as luzes. Não façam barulho. Quem puder, saia já! Não usem os elevadores! Pelas escadas e sem ruído. Rápido. Gays e imigrantes primeiro, estrelas de Hollywood para o final. Cuidado com as carteiras que ainda as usa para pagar o défice monstruoso.
Tarde de mais! Já está. O "Governator" invadiu o hotel, tomou o Governador da Baja California como refém e fez o pior que podia fazer: falou!

terça-feira, setembro 27, 2005

The Mex Files - A Praga

Fey


Entre as várias coisas de que gosto na América Latina, não se conta certamente a música. Exceptuando - de longe - o tango e uma ou outra coisa brasileira, em geral, as salsadas e companhia são para mim tortura pior do que deixar a Fátucha sem laca Sunsilk. É de tal maneira que nem sequer ligo o rádio em Mexicali para evitar acidentes.
Pois não é que vou passar o fim-de-semana a San Diego para fugir um bocado da novela mexicana e, entre duas cervejas, dou comigo a pagar 20 dólares e a entrar para um local onde centenas de pochos (mexicanos imigrados) gritavam histericamente? Não é que caio que nem uma piñata num concerto de uma estrela pop mexicana? "Fey! Fey! Fey!".

Se isto não é praga da Rosa Villa contra os imigrantes ilegais angolanos...

sexta-feira, setembro 23, 2005

The MeX Files - Export

Mexico



"(Jorge)- O que torna os lavradores poéticos é a inconsciência com que eles o são.
(Maurício)- Vistos de longe. Pelo menos concorda nisto; vistos de longe, e de muito longe."
Júlio Dinis, Os fidalgos da Casa Mourisca

Ora tinha eu planeado escrever acerca da acuidade do comentário de Maurício. Referir aqui como o mesmo se aplica a Portugal, elaborando acerca da relação directamente proporcional entre a distância e o encantamento que justifica daqui até se possam ter umas pontinhas de saudade poética da pátria.
Acontece que o Al Gore decidiu acabar com as ditâncias e dos quilómetros se fizeram cliques. Conclusão: não há saudade que resista à notícia do regresso da lavradora-mor apenas aparentemente foragida nas colónias, nem romantismo que aguente tanto patético no ser amado.
Como diria o Frei Januário: Ora adeus! E eu é que estou no México?

quinta-feira, setembro 22, 2005

Então não é....

Fidalgos


... que dei comigo a ler isto no avião de volta para o México e que o li todo e que adorei?
Parece impossível.
Que faz agora um snob literário como eu que sempre ignorou o romance nacional - Eça excluído?
Sei lá?

terça-feira, setembro 13, 2005

Absolutamente Inaceitável

Vergonha


Então não é que me fui esquecer do meu próprio aniversário. Ah, pois é! Os amigos todos que passam a vida a refilar dos meus esquecimentos têm aqui a prova: o Quid fez um aninho no dia 9 de Setembro e nem uma velinha, nem um bolinho, nem um postalinho! Nada! Não me digo que foi culpa da border patrol que a mim com essa não me convenço. Tenho vergonha!

P.S. Outra vítima do meu síndroma de esquecimento foi o Luís. Eu, se fosse comigo, nunca mais me falava que isto de parabéns atrasados é desculpa esfarrapada.

sexta-feira, setembro 09, 2005

O Processo

O Processo
Tudo começou da forma habitual:
- Where were you born?
- Angola.
- What's your nationality?
- Portuguese.
- Where do you live?
- Portugal.
Olhar desconfiado, mão na cabeça, provavelmente à procura de um cérebro que nunca lá esteve.
- So you were born in...
- Angola.
- ...and you're a Portuguese citizen.
- That is correct.
Olhar de lado. Afasta-se e volta com o malfadado papelinho para a inspecção secundária. Lá vou eu para a imigração de passaporte na mão. Entrego-o a um Big Mac ambulante, de nome Rosa Villa, com um copo de 3 litros de cola na mão. Manda-me sentar e remexe furiosamente no computador. Chama-me:
- When was the first time you came to the US?
- Late 1999, I think.
- You think?
- Well, it was five or six years ago. Yeah, 1999.
- And what are you doing in Mexico?
- Working.
- Do you commute to Portugal? - ar escandalizado.
- Every five weeks, I do.
- Please sit down.
30 minutos depois a espécie de resevatório de colesterol volta a chamar-me:
- Do you know that you were in the US illegally in 1999?
- I was?
- Your Visa is from 2000, so when you were in the US in 1999, you were illegal.
- When was the Visa issued?
- January 2000.
- So I came here in 2000 for the first time.
- You told me 1999. How did you get in in 1999?
- I didn't get in in 1999, I came here in 2000.
- If you tell me 1999, it's 1999.
- I told you LATE 1999, I made a mistake, it was early 2000. It's a month's difference and it has been five years I can't remember the exact date.
- (Dedo ameaçador)Don't lie to me. Please sit down.
Computador, computador, cola, computador, conversa, cola, mais cola, computador. Chama-me:
- So you were working in the US in 2000?
- No, I was working for a European company in the US.
- Did you have a B1 Visa?
- I have no idea, should be on the passport.
- Do you usually get in with a B1 or a B2 Visa?
- I don't know, I give them the passport, they stamp it, I'm happy.
- Because you have a B1 Visa until 2010.
- Great.
- Why would you have a B1 Visa coming from a Visa-waiver country?
- Because I was staying for more than 3 months in 2000.
- hmmmmm, please sit down.
Mais 30 minutos. A experiência genética de colocar a gordura de uma foca num corpo acéfalo volta a chamar-me, desta vez de luvas nas mãos. Temi o pior, mas era só para tirar impressões digitais. De TODOS os dedos e das palmas das mãos também. Já estava pronto para me descalçar. Vem uma colega que era capaz de jurar que era a Dolly Parton pós-operação de redução:
- What's up with this one?
- Yeah, I think he's overstayed for like 5 years.
- Smart ass, huh?
- And he lied to me. Said he came in the first time in 1999 and turns out his VISA is from 2000.
- Will these people never learn?
(Inspira. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. Expira.) Volto a sentar-me. Espero. Uma hora desta vez. A cetácea bípede volta e convida-me para uma salinha onde está o cérebro do Silvester Stallone no corpo do Jô Soares.
- Do you know what perjury is?
- I do.
- Do you solemnly swear to tell the truth, the whole truth and nothing but the truth, so help you God?
- I do, but I'm an atheist.
- Can I see your California driver's license?
- I don't have one. You can see my Portuguese driver's license, if you'd like.
- Our records show a driver's license from California was issued in your name in 2000. (Saca de um folha, triunfante). Is this your signature???
- Looks like it.
- This is from the Department of Motor Vehicules, so I'll ask again, can I see your California driver's license?
- You can't because I do not have one. The only thing I asked the DMV in 2000 was an authorisation to drive with a foreign driver's license, which is what you have to do if you stay for longer than 3 months in California.
O Jô sai, presumo que para verificar com a DMV se a carta alguma vez existiu. Entra a Dolly Parton com a minha pasta. Pedem-me a carteira. O choque frontal entre um TIR carregado de queijo e uma fábrica de bacon desata a remexer em tudo e a fazer perguntas-rasteira para me apanhar.
- So when you first came to L.A. in 1999...
- It was 2000 and I went to San Francisco.
- Right. You were working for xxxxxx in San Francisco for how long?
- I was working for xxxxxx in Europe, assigned to San Francisco for a project.
- Right, but you don't have any American bank cards, that's weird. I mean you were working here.
- I was working for a European company, getting paid in Europe, assigned here. Now it's the same, only in Mexico.
- Right. Why do you have a Hertz Card?
- Because I rent cars.
- But isn't Hertz American?
- It rents cars in Europe too, do you want to check their website?
Pega na minha carta de condução, vira, revira, acontece o inevitável:
- Why does it say Angola here?
- That's where I was born.
- But aren't you Portuguese?
- Yes. Are you Spanish? No. Why? because what used to be a Spanish colony is now part of the US. The same with Angola, when I was born, it was Portugal, now it isn't.
- So what is it now?
- (1,2,3,4,5,6,7,8,9,10) An independent country.
Saca uma factura do hotel na cidade do México.
- I thought you said you were working here in Mexicali.
- I am.
- Then why do you have a bill from Mexico City?
- I went there for the weekend. I also have bills from here.
- Why did you go to Mexico City?
(Vai-te lixar, seu aterro sanitário de calorias! Que raio tens a ver com isso?)
- To visit.
- To visit whom?
- The city.
- Like a tourist?
- Like one of those.
Entra a Dolly de papel na mão.
- So?
- Clean. There's nothing on him anywhere.
- Yeah, but he's hiding something. I think he's overstaying since 1999. He's got a California Driver's License.
Foi neste momento que me transformei em barata de barriga para cima. O Jô voltou com o papel da DMV a confirmar que não havia carta nenhuma, havia uma autorização. Juraram que a DMV ia tirar o meu nome da Base de Dados, mas a "supersize-every-inch-of-me" ainda está convencida que eu, que entrei no país 9 vezes, que tinha carimbos de vários outros países no passaporte e que estava a ENTRAR no país, era um emigrante ilegal que nunca tinha saído. Desde 1999.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Em Trânsito

Home


Tho' I get home how late -- how late
So I get home - 'twill compensate
Better will be the Ecstasy
That they have done expecting me
When Night -- descending -- dumb -- and dark
They hear my unexpected knock
Transporting must the moment be
Brewed from decades of Agony!

To think just how the fire will burn
Just how long-cheated eyes will turn
To wonder what myself will say,
And what itself, will say to me
Beguiles the Centuries of way!

Emily Dickinson - Tho' I get home how late -- how late

quarta-feira, setembro 07, 2005

Capra caprae

Cabra


O HBO é um luxo. Ontem, tive direito ao segundo episódio do Rome (Já vão dois. O DVD não deve tardar) com Júlio César a cruzar o Rubicão em direcção a Roma para dar uma tareia a Pompeu, para ver se aprende a não dar ouvidos a Cato na gestão da República. Mas, para já, a personagem mais fascinante é, como sempre, a cabra. Série sem cabra não é série. Até as novelas venezuelanas têm sempre uma (loira platinada, normalmente). Atia é sobrinha de César, amante de Marco António e de mais umas dezenas de romanos e usa os filhos como cartões de crédito. Ora tenta casar a filha Octávia - que, por sinal, já é casada - com Pompeu para se proteger, ora arrisca a vida do filho, Caio, mandando-o numa viagem à Gália para oferecer cavalos a César. Entretanto, reúne os inimigos de César em casa e para terminar vai para a cama com o seu porta-estandarte. Enfim, uma cabra como deve ser, da velhíssima guarda.
Ainda mal recuperei da série e já tenho direito ao Real Time With Bill Maher, o comediante democrata menos politicamente correcto da história. Grande parte do programa é passada, como seria de esperar, a desancar o W de alto a baixo e esta semana, graças à barraca de Nova Orleães, os motivos abundavam. Aqui ficam as minhas tiradas favoritas de ontem:

"The Republicans just cannot understand why people stayed. They can't understand why they didn't load their Range Rovers and headed out to their Summer homes."

"New Rule: Now that they've been hit by hurricane, the Alabama National Guard has to call up President Bush. Since he never really reported for duty back then, get out your chainsaw, Mr. President, it's brush-clearing time."

"New Rule: Tulips aren't flowers. They're some kind of gay onion."

"New Rule: Defenders of the war in Iraq must stop comparing it to the American Revolution. Let's just mention a few ways this analogy breaks down. One: the American Revolution was a home-grown rebellion fought with guerilla tactics against an occupying army of foreigners and mercenaries. Okay, that is exactly what's going on in Iraq. Oh, except for one thing: This time, WE'RE ENGLAND!"

terça-feira, setembro 06, 2005

The Mex Files XI

HTML Dog

Da pirâmide da Lua, a Calçada dos Mortos e a pirâmide do Sol à esquerda

É um lugar-comum dizê-lo e outra coisa não seria de esperar numa cidade com este tamanho: não há uma Cidade do México, há imensas. Há a cidade boémia de Coyocán, o México de Frida e de Diego, das casas históricas e das ruas empedradas; a cidade verde e bem cuidada de Polanco e Condesa, com um ar quase europeu, de esplanadas cheias nos inúmeros bares e restaurantes que ladeiam as avenidas largas; e depois há a outra cidade. Ao contrário do que sucede, por exemplo, no Rio, esta cidade não se vê no centro e foi ao sair em direcção às pirâmides de Teotihuacán que a vi. "Casas" sem pintura, de tijolo ou cimento à mostra, empilhadas nos morros que rodeiam a cidade estendendo-se por quilómetros e quilómetros com crianças a jogar futebol nas ruas de terra batida salpicadas por lagos de águas residuais. É aqui que vive a larga maioria dos 26 milhões, entre a cidade onde entram diariamente para trabalhar e maravilhas históricas como Teotihuacán onde, no século I a.C., já havia muito do que ainda não têm, como por exemplo um sistema de recolha de águas residuais. Ninguém sabe muito bem quem foram os Teotihuacanos, sabe-se apenas que construíram a cidade dos deuses e que um dia a deixaram para destino desconhecido. Encontraram-na , no século XIV, os aztecas que, surpreendidos, criaram o mito de que aqui se tinham reunido os deuses para garantir a existência do mundo.

domingo, setembro 04, 2005

The Mex Files X

Casa Azul


Extraordinariamente, há cor no Quid.
É que a Casa Azul não fazia sentido a preto e branco.
Ah, e eu também vivia.

sábado, setembro 03, 2005

The Mex Files IX

Nova Basílica


Nova Basílica de Guadalupe, México

O que é que se faz quando se leva um ralhete de mãe por não se ter ido ver a Virgem de Guadalupe?
É a primeira coisa que se faz quando se volta à Cidade do México. É que os pedidos de mãe são uma espécie de cartas da DGCI: se ficarem pendentes não se consegue dormir. Embora tenha suspeitas que a ideia era que eu rezasse, parece-me um compromisso razoável ir lá e mandar umas fotos à frente das Basílicas. Além do mais, a Virgem já me fez pagar o agnosticismo com uma chuvada torrencial à saída. É para aprender.
Há várias pontos curiosos na história da Virgem de Guadalupe: apareceu aqui muito antes de ir até Fátima, em 1531; apareceu a um índio, com o nome, digamos, "suspeito" de Juan Diego ("Juanito", "Juan Dieguito", como lhe chama a Virgem) e, finalmente, tem uns traços entre o índio e o negro o que contrasta com as virgens pálidas e alouradas que nos habituámos a ver. Mas o melhor é verem a história.
O Santuário em si começou, no século XVII, com a construção da Capela do Cerrito, no monte por onde o índio vinha quando a Virgem o chamou e de onde o anjo aí em baixo olha a Cidade do México com mais três companheir@s (há muito para olhar...). Em 1709, foi construída a primeira Basílica de Guadalupe que é hoje o intimidatório Templo Expiatório a Cristo Rei, onde aproveitei para me refugiar da chuva e ver se, num dois em um, também se me expiavam os pecados. Devido ao terramoto, esta Basílica foi encerrada para recuperação e os mexicanos, que não podiam ficar privados da Virgem, construíram uma nova com capacidade para 10 mil pessoas. O mais impressionante na nova Basílica não era o número de confessionários (contei, pelo menos, uns 20), mas as filas enormes numa Sexta-feira à tarde para ir ao confessionário.
No local exacto onde a Virgem terá aparecido, existe um manancial e, obviamente, mais uma capela, a barroca Capela del Pocito, de onde vem a água bendita.
No meu caso, só veio de cima.

Nova Basílica