"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

sexta-feira, julho 29, 2005

Em Trânsito III

HTML Dog


Digo ao piloto para virar para a Ota, Montijo ou para a Portela na mesma?

Em Trânsito II - Small Talk

Air Train


Se há coisa em que ninguém bate os americanos é em conversa de treta com perfeitos estranhos. Normalmente, para evitar ouvir a história da vida deles desde pequeninos, ponho a minha cara mais antipática, não olho directamente para eles, faço o possível e o impossível por mostrar que não estou minimamente interessado no que me tenham a dizer. Nada a fazer: acabo sempre a ouvir uma história qualquer. Se calhar as minhas tentativas de os evitar só os fazem ficar mais intrigados e curiosos, ou então é um género de vingança: "agora vais ouvir-me!". Só sei que nunca escapo.
Hoje fiquei fechado com um universitário e uma hospedeira no monorail do aeroporto. Nos cinco minutos que dura a viagem, descobri que o rapaz estava a voltar de Itália onde tinha ido festejar o fim do curso, que tinha estado em Roma - a hospedeira preferia Nápoles - que não tinha ido à Costa Amalfitana, mas tinha pena. Era da Maryland e agora tinha de ir apanhar o comboio para Filadélfia onde a mãe tinha vindo passar o fim-de-semana para depois lhe dar boleia de volta a casa porque no Domingo casava-se um colega. Bom rapaz, a noiva nem por isso. Ele não tinha planos de casar tão cedo, queria viajar. Portugal era uma opção. A hospedeira era do Wisconsin, trabalhava para a Continental, voava muito, mas também nunca tinha ido à Costa Amalfitana - mas uma amiga já e parece que era lindo - porque só voa para onde a mandam, não voa em turismo. O marido estava em Seattle com amigos a fazer sea kayaking. Ela não gostava de desportos radicais, o universitário também não, acha que a vida já e perigosa que chegue, principalmente os aviões. Riem-se e ela explica que o marido ia atravessar para Vancouver e se eu já lá estive. Já. Dizem que é bonito. É mesmo. O universitário não quer ir ao Canadá: é a mesma coisa só que têm funny dollars, prefere ir para a Califórnia porque a high school sweetheart vive lá, em Orange County. "Oh My God", diz a hospedeira, ela também tem uma amiga em Orange Country. Que coincidência! Claro que Orange County tem, pelo menos, uns dez milhões de pessoas, mas isso não os impede de ficarem excitados. Não, já não há nada entre eles, são só bons amigos, esclarece ele à hospedeira, ela queria coisas mais sérias, ele não, ele é cool e, "Oh My God!" está a ler o mesmo livro que eu! Viu-o na Europa em paperback, aqui não há. Não faz sentido nenhum, mas aqui não há em paperback. Pergunta-me se posso acreditar. Digo-lhe que é inaceitável e que ainda bem que o comprou em Itália. Está a gostar, embora o inglês seja um bocado britânico, o que não é de estranhar já que o autor é inglês. A hospedeira ia a dizer que o inglês britânico era qualquer coisa quando as portas de abrem e eu salto para à porta à procura de oxigénio.

"Nice meeting you!", dizem em coro, pegando nas malas.

quinta-feira, julho 28, 2005

Em Trânsito

Em Trânsito


A ver se dá tempo para um pequeno-almoço no Tyffany's.

quarta-feira, julho 27, 2005

The MeX Files IV

HTML Dog


Un abanico?

terça-feira, julho 26, 2005

The MeX Files III

HTML Dog
Sueño de una tarde dominical en la Alameda

Odeio mapas. Não que tenha alguma coisa contra cartógrafos, mas, quando ando numa cidade, essa ideia de andar de quarteirão em quarteirão a tirar o mapinha desdobrável do bolso para ver onde estou parece-me tão absurda como uma re-re-re-candidatura do Soares. Quero lá saber onde é que estou! Estou numa rua que vai, de certeza, dar exactamente onde quero ir porque não quero ir a lado nenhum. Chama-se a isso passear.
Em cidades como a Cidade do México estes hábitos de vaguear tornam-se difíceis e há que tirar uns azimutes básicos para alinhar o Norte magnético com as zonas seguras. Depois disso é pôr-se a andar e que a Virgem de Guadalupe nos proteja. Foi o que fiz até dar de caras com o Bosque de Chapultepec. A entrada - com um monumento aos meninos guerreiros onde o Santana não consta - dá o tom a este parque enorme no centro da cidade onde se descobre muito da história e cultura mexicanas. Além do castelo, do museu de Arte Moderna e do museu de Antropologia, os milhares de famílias mexicanas que por aqui passeiam tornam o sítio irresistível. Imaginem um Central Park apinhado, mas sem jogging e, menos ainda, power walking. Só famílias enormes - da bisavô aos dez netos - que passeiam trincando todos os tipos de comidas picantes possíveis e que só têm em comum serem vendidos em centenas de banquinhas onde se pode comprar tudo: até cigarros à unidade. Todas tinham maços fechados e outros abertos com o preço unitário. Um hábito nacional - que já tinha visto noutros lados em muito menor escala e que me irrita solenemente - são as coleirinhas para as crianças. Todos os miúdos com menos de 5 anos iam açaimados passear no parque. A maior parte deles não achava graça nenhuma e berrava a sua indignação. Dada a história de sequestros nesta cidade, sou tentado a perdoar o excesso de zelo do papás, mas continuo a preferir a mãozinha.
Impregnado do calor popular, meti-me num Táxi Carocha (que não têm banco de pendura para os passageiros caberem) e demorei só 1h30m a chegar ao museu Diego Rivera - que fica só alguns quarteirões à frente.
Francamente, não me lembro quando ouvi falar de Rivera pela primeira vez (sobrolhos esquerdistas arqueados por cima dos óculos Armani), nem nunca lhe tinha ligado muito (obrigatoriedade de arte socialista na escola primária já e subsídios estatais para visitas de estudo!), mas quando dei de caras com isto, fiquei aparvalhado. O Museu "só" tem este mural (os outros estão espalhados pela cidade e pelo mundo) mas consegui ficar lá umas duas horas a ver todas as personagens em detalhe e o historial de frases apagadas ("Deus não existe", que foi depois trocado por uma banalidade qualquer sugerida pelo próprio - Rivera, isto é, não Deus), borrões na cara de Rivera e politiquices várias. A seguir, fui forçado a pegar num mapa para ver onde estavam os outros murais e a fixar nomes de ruas.
Ao atravessar a esplanada onde fica o museu, encontrei todos os personagens de Rivera. A esplanada onde - no mural - a polícia impedia os pobres de entrar para não perturbarem as pessoas de bem, foi tomada de assalto pelas famílias mexicanas que não estavam em Chapultepec. No coreto, uma banda toca e há baile e piqueniques a meio da tarde. Até parava para aprender uns passinhos, mas agora tinha uma rua onde ir.

sábado, julho 23, 2005

The MeX Files II

Anjo da Independência





Mexicali International Airport, Mexicali, B.C, Mexico, 16:00 PST, 47ºC


Segurança burrito style: a mala passa pelo raio-x, mas para as pessoas não há detector de metais. Obviamente, toda a gente viaja com as bombas na mala, porque não cabem nos bolsos. Depois do raio-x pergunto onde é a zona de fumadores. Dizem-me que tenho de voltar a sair com a mala, mas que não me preocupe: quando voltar do cigarrinho não tenho de voltar a passar a mala pelo raio-x porque já passei.

17:00 PST


A menina da Mexicana de Aviación anuncia no alta-voz que quer que lhe entreguem os cartões de embarque. Quando me tento levantar para lho ir levar, o meu colega - mexicano - diz que leva o meu, que escusamos de ir os dois e que não, não precisa do meu passaporte. Põe-se na bicha, entrega os dois e volta dizendo: no hay terroristas en México.
Nesta altura eu posso ter trocado de mala e até já posso não ser eu, mas no pasa nada.

17:45 PST


Descolagem em direcção ao Mar de Cortés aka Golfo da Califórnia, segundo o piloto para fugir aos efeitos do furacão que ainda por aqui andam.

22:45 CST

Meio a dormir, espreito pela janela e dou de caras com 59 Lisboas ou 40 Paris ou 4 Los Angeles ou 2 Tóquios: mais de 4000 km2 de luzes que iluminam ninguém sabe muito bem quantas almas - oficialmente uns 22 milhões. Alguém decidiu que era boa ideia plantar o aeroporto no meio, pelo que não consegui perceber se íamos aterrar na pista ou numa das avenidas gigantescas que o ladeam.

Benito Juaréz International Airport, D.F., México, 23:20 CST, 15ºC

O piloto acertou. Entretanto, perdi 32 graus no avião. Aparentemente, não se podem apanhar os táxis normais quando se tem cara de estrangeiro pelo que a minha falta de sangue azteca me condena a um táxi privado. Obviamente, os 22 milhões andam todos de carro e compraram as cartas no mesmo sítio que o taxista.

Paseo de la Reforma, México, D.F., México

O anjo aí de cima está a espreitar na minha janela. Os mariachis mudaram-se para o bar lá de baixo e só aceitam gorjetas em dólares.

segunda-feira, julho 18, 2005

LA is ma Bitch

Santa Monica


Só um louco é que se mete na estrada em direcção a Los Angeles numa Sexta-feira à tarde, mas depois de uma semana em Mexicali, o convite para ir passar o fim-de-semana a Santa Monica era irresistível - provavelmente o calor derreteu-me o cérebro. Paguei a loucura com 4 horas para fazer cem quilómetros em Orange County. A auto-estrada é sempre um enorme parque de estacionamento e desta vez acrescia um tarado a fugir da polícia num camião TIR roubado pelas auto-estradas da cidade. É o que dá ter amigos com mau gosto que se mudam para sítios destes.
Los Angeles sempre me pareceu odiosa. A minha ideia para melhorar a cidade é um exército de bulldozers a descer de São Francisco e outro a subir de San Diego até se encontrarem em Rodeo Drive.
Desta vez a coisa não foi má e até consegui ver o sol na praia durante uns dez minutos antes do smog o tapar. Como em LA se tem de ser angeleño, andei de patins - andei, literalmente, porque patinar não é o meu forte - por Venice Beach onde se colocavam questões prementes em cartazes como, por exemplo, a de saber se Jesus se masturbava e onde uma senhora que se auto-intitulava "Europe's Best Medium" lia o futuro dos transeuntes.
Depois de ajudar a minha amiga a "feng-shui-ar" a casa - ela diz que não é fundamentalista e que não bate palmas nos cantos para não sei o quê, mas eu não fiquei convencido - e de um jantar num restaurante etíope (não quero falar sobre isso) levaram-me para West Hollywood para uma "Missy 'Misdemeanor' Elliott Night". Só tenho uma coisa a dizer: motherfuckin' bitch.
E como não fazer compras em LA é crime federal, comprei finalmente uma coisa destas que enchi com Hip-Hop roubado de PCs alheios.
Continuo a achar que os bulldozers são boa ideia, mas salvem os CDs.

sábado, julho 16, 2005

The MeX Files 1

Mexicali


Os cépticos que ainda pensam que não há nenhuma conspiração e que a invasão não começou, têm de cruzar a fronteira: Mexicali é o quartel-general dos aliens. Não só nenhum humano consegue aguentar temperaturas de 52 graus, como a mim também não me convencem que os bigodinhos à Errol Flynn que todos os machos híbridos humano-aliens não foi uma experiência com o Black Oil que correu muito mal.

P.S. Na foto Calexico (Califórnia + México) e Mexicali (México + Califórnia). Os que têm água para regar os campos são os de cima e aquela linha está mesmo lá e com arame farpado.

sexta-feira, julho 08, 2005

Estreia Mundial

O Quid apresenta, em rigoroso exclusivo,:

HTML Dog

Trust No One.

Brevemente no ecrã do seu PC.

domingo, julho 03, 2005

QuidNovela

O Quid orgulha-se de apresentar a primeira foto-novela da blogosfera directamente da fronteira gringo-mexicana, o drama de uma rapariga rica da cidade do México - Lupita - que de férias em Ensenada descobre o segredo que seu pai - Carlos Gustavo - há muito escondia: o seu irmão gémeo pobre e transexual - Pepito aka Maribel - de Tijuana que sonha emigrar para os E.U.A. para entrar no Big Brother. Sem mais delongas, aqui fica

Alguna



Don Carlos

Don Carlos Gustavo, poderoso industrial de lagartos para tequila, viúvo há vários anos, só tinha um amor: a sua linda filha, Lupita Cristina.
Depois de ter enviado o último cheque para garantir a licenciatura da filha, Don Carlos resolveu oferecer-lhe uma viagem de fim de curso a Ensenada com as amigas Rubí e Camila.
Lupita
Lupita fez birra e lembrou ao pai que os quilos de maquilhagem de que dispunha não eram resistentes à água e que ia ficar horrível depois de mergulhar no Pacífico.
Lupita
O generoso Don Carlos deu à filha 1000 pesos e mandou-a ao Walmart.
Devidamente equipada, Lupita partiu com as amigas num voo da Aeromexico em direcção a Tijuana para as merecidas férias.

Lupita

Uma noite, Lupita conheceu numa taquería local um garboso latifundiário de Chihuahua, o produtor de abacate Marco Jesús. Embora Marco Jesús insistisse que a amava, Lupita sabia que era um amor impossível porque nas plantações de abacate matam os preciosos lagartos do seu pai. De coração partido, Lupita pediu a Marco Jesús que se fosse embora para não sofrer mais por esse amor lindo, mas proibido.
Lupita
Lupita era uma rapariga forte e fez o possível para tirar Marco do seu coração e desfrutar das férias. Mas o vil Marco tinha outros planos e não voltou para Chihuahua. Uma noite, quando ia pedir emprestada a Rubí a sombra vermelho vivo e a tinta loiro falso, qual não foi a sua surpresa ao encontrar a amiga conversando com Marco.
Perante um Marco Jesús destroçado, Rubí tentou explicar que estavam só a conversar sobre como podiam tornar possível o amor de Lupita e de Marco, mas o colar de sementes de abacate de Rubí era uma prova demasiado clara da traição da amiga.
Lupita
Lupita foi para o bar do hotel afogar as suas mágoas em Corona Light e foi aí que conheceu Maribel, que fazia covers de Chavela Vargas no hotel. Vendo-a de coração rasgado, Maribel convidou Lupita a ficar consigo para não ter de ver a amiga. Camila ainda fez várias tentativas para falar com Lupita, mas perante a intransigência de Maribel, as amigas acabaram por partir para a cidade do México.
Lupita
Foi então que tudo se precipitou: a partir de um lagarto da marca do pai, Lupita confrontou Maribel que confessou ser de facto Pepito, o filho ilegítimo de Carlos Gustavo que tinha ameaçado revelar toda a verdade se o pai não lhe pagasse a viagem ao Brasil para fazer a operação. Nesse momento, Marco Jesus - meio irmão de Maribel por parte da mãe -entrou pela casa mostrando a escritura de venda da suas terras de Chihuahua ao pai de Rubí. Tudo estava explicado e Lupita deixou-se cair nos braços de Marco para um beijo ardente enquanto Maribel cantava "Piensa en Mí".
Lupita