"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

terça-feira, julho 26, 2005

The MeX Files III

HTML Dog
Sueño de una tarde dominical en la Alameda

Odeio mapas. Não que tenha alguma coisa contra cartógrafos, mas, quando ando numa cidade, essa ideia de andar de quarteirão em quarteirão a tirar o mapinha desdobrável do bolso para ver onde estou parece-me tão absurda como uma re-re-re-candidatura do Soares. Quero lá saber onde é que estou! Estou numa rua que vai, de certeza, dar exactamente onde quero ir porque não quero ir a lado nenhum. Chama-se a isso passear.
Em cidades como a Cidade do México estes hábitos de vaguear tornam-se difíceis e há que tirar uns azimutes básicos para alinhar o Norte magnético com as zonas seguras. Depois disso é pôr-se a andar e que a Virgem de Guadalupe nos proteja. Foi o que fiz até dar de caras com o Bosque de Chapultepec. A entrada - com um monumento aos meninos guerreiros onde o Santana não consta - dá o tom a este parque enorme no centro da cidade onde se descobre muito da história e cultura mexicanas. Além do castelo, do museu de Arte Moderna e do museu de Antropologia, os milhares de famílias mexicanas que por aqui passeiam tornam o sítio irresistível. Imaginem um Central Park apinhado, mas sem jogging e, menos ainda, power walking. Só famílias enormes - da bisavô aos dez netos - que passeiam trincando todos os tipos de comidas picantes possíveis e que só têm em comum serem vendidos em centenas de banquinhas onde se pode comprar tudo: até cigarros à unidade. Todas tinham maços fechados e outros abertos com o preço unitário. Um hábito nacional - que já tinha visto noutros lados em muito menor escala e que me irrita solenemente - são as coleirinhas para as crianças. Todos os miúdos com menos de 5 anos iam açaimados passear no parque. A maior parte deles não achava graça nenhuma e berrava a sua indignação. Dada a história de sequestros nesta cidade, sou tentado a perdoar o excesso de zelo do papás, mas continuo a preferir a mãozinha.
Impregnado do calor popular, meti-me num Táxi Carocha (que não têm banco de pendura para os passageiros caberem) e demorei só 1h30m a chegar ao museu Diego Rivera - que fica só alguns quarteirões à frente.
Francamente, não me lembro quando ouvi falar de Rivera pela primeira vez (sobrolhos esquerdistas arqueados por cima dos óculos Armani), nem nunca lhe tinha ligado muito (obrigatoriedade de arte socialista na escola primária já e subsídios estatais para visitas de estudo!), mas quando dei de caras com isto, fiquei aparvalhado. O Museu "só" tem este mural (os outros estão espalhados pela cidade e pelo mundo) mas consegui ficar lá umas duas horas a ver todas as personagens em detalhe e o historial de frases apagadas ("Deus não existe", que foi depois trocado por uma banalidade qualquer sugerida pelo próprio - Rivera, isto é, não Deus), borrões na cara de Rivera e politiquices várias. A seguir, fui forçado a pegar num mapa para ver onde estavam os outros murais e a fixar nomes de ruas.
Ao atravessar a esplanada onde fica o museu, encontrei todos os personagens de Rivera. A esplanada onde - no mural - a polícia impedia os pobres de entrar para não perturbarem as pessoas de bem, foi tomada de assalto pelas famílias mexicanas que não estavam em Chapultepec. No coreto, uma banda toca e há baile e piqueniques a meio da tarde. Até parava para aprender uns passinhos, mas agora tinha uma rua onde ir.