terça-feira, setembro 26, 2006
... os que esperam, os que perdem
o motivo, os que emudecem,
os que ignoram, os que ocultam
a dor, os que desfalecem,
os que continuam, os
que duvidam... coração,
Afirma, afirma e te abrasa
Pelas milícias do não!
A Catedral (Lira Paulistana), Mário de Andrade
Coração Sé, Paulo von Poser
segunda-feira, setembro 25, 2006
Buen Viaje
Fico feliz por ver que vamos poder livrar-nos de quase um terço da população. Espero que Cavaco já esteja a negociar com Juan Carlos o envio desses 3 milhões de iberistas para Talavera de la Reina. Com um bocado de sorte, ainda os substituimos por imigrantes. Já estou a ver o défice a baixar, a produtividade a subir, o PIB per capita a bater o da Noruega. Sim, porque a mim ninguém me convence que estes 3 milhões não são os funcionários públicos.
Você Está Aqui! II
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Canto de Regresso à Pátria, Oswald de Andrade
15 de Novembro, Paulo von Poser
domingo, setembro 24, 2006
Você Está Aqui!
Nesse exato momento eu tô voando
Eu tô voando
Eu tô vendo muita gente triste
Eu tô vendo muita gente feliz
Eu tô vendo vendo um passarinho bonito
Tomando água no chafariz
Eu tô vendo muita gente com ódio
Eu tô vendo muita gente com amor
Eu tô vendo um mendigo doente
Tomando pinga pra passar a dor
Daqui do céu da prá ver tudo
Os continentes desse mundo
Eu tô vendo a morte passando
Eu tô vendo a vida passar
Eu tô vendo uma girafa grande
Eu tô vendo o palhaço chorar
Eu tô vendo um piolho, uma pulga
Eu tô vendo um cachorro coçando
Eu tô vendo um vendaval gigante
Eu tô vendo o cabrito mamando
Daqui do céu dá prá ver tudo
Os continentes desse mundo
Eu tô vendo muita confusão
Homem briga por religião
Eu tô vendo o santo respirar
Na igreja católica
Eu tô vendo o pai de santo ali
Eu tô vendo o laminha sorrir
Eu tô vendo o rabino pensando
Como as coisas podem existir
Daqui do céu da prá ver tudo
Os continentes desse mundo
Nesse exato momento eu tô voando
Eu tô voando
Eu Tô Voando, Karnak
Eu Tô Voando, Paulo von Poser
Esquiringuindum - Crónicas do Brasil II
A capacidade de adaptação humana é enorme: é essa a única explicação para alguém viver em São Paulo e, naturalmente, para eu ficar em SP um fim-de-semana. Não pensem que encarei esta estada como um prazer, foi mais como uma fatalidade trágica com a qual há que aprender a viver, pelo menos nos próximos meses. Parti, assim, numa quimera à procura do que de menos mau possa existir na cidade para tentar justificar a mim próprio que se trata de uma escolha racional não correr imediatamente para Guarulhos. Para que conste, para a grande "capital cultural" que se vende, a oferta é escassíssima e não me interessa se os guias turísticos dizem o contrário. Espero ansiosamente a bienal para retirar letra por letra esta afirmação. Por agora, comecei o fim-de-semana com uma visita ao recém-inaugurado Museu da Língua Portuguesa localizado na lindíssima - e recuperada - Estação da Luz. Iniciei a visita assistindo a um filme que me venderam como tratando a História da Língua. De facto, começa no surgimento da linguagem, refere o indo-europeu e o latim, mas depois dá um salto para 1500 - referindo à pressa esse facto irrelevante dos portugueses - para referir as influências do tupi na língua-pátria. Na Praça da Língua, fui recebido por Sophia de Mello Breyner Andresen que no "Poema de Helena Lanari" esclarece, logo à partida, que "Gosto de ouvir o português do Brasil/Onde as palavras recuperam sua substância total". Está dado o mote: a partir daí não mais se ouve outro sotaque que não seja o da substância total, mesmo quando se ouvem textos dos felizes galardoados com uma presença - embora insubtanciais - Camões e Pessoa. Na Grande Galeria, passa-se o mesmo, a língua é vista unicamente como parte integrante da nação brasileira num reducionismo provinciano que empobrece o museu, pese a seca dedicada à herança lusa com arqueólogos e historiadores. Nem a abertura dada pela descoberta na área das "Palavras Cruzadas" de que "moleque" vem do Quimbundo abriu os horizontes dos criadores do museu a ouvir e ler outro(s) português(es).
Deprimido, situação a que não será alheia o facto do Museu se encontrar na abandonada e decrépita zona central da cidade, onde se espera a qualquer momento o colapso dos edifícios, fui para o teatro. Obviamente, não tinha reservas e acabei numa comédia indiferente da qual só retive o facto do protagonista corrigir a namorada garçonette quando ela diz "filma eu". Francamente, é um erro tão comum por cá que eu já começava a pensar que, além de substância, havia por aqui regras bizarras para o uso dos pronomes.
No Domingo, mantive-me firme na minha determinação e parti cedinho para a Pinacoteca do Estado onde, para além do acervo de obras de artistas brasileiros dos séculos XIX e XX, havia várias outras exposições promissoras. A melhor é de longe a de fotografia de Klaus Mitteldorf, um fotógrafo paulista que desconhecia. "Introvisão" convenceu-me ao ponto de ir à loja da Pinacoteca tentar comprar o catálogo da exposição. Obviamente, não havia. Havia, isso sim, uma edição do trabalho do autor que me deixou neurótico: quem raio publica uma monografia com as fotos cortadas ao meio entre duas páginas? Para aprender, blogo uma foto dele.
Para terminar, e seduzido pela descrição - "Vista do alto, São Paulo é um labirinto sem buzinas, sem correria, sem caos e cheio de encantamento." - fui para a Galeria Paulista da Caixa ver a exposição "Você está aqui!" onde imagens aéreas registadas a partir de um dirigível são acompanhadas de poemas. De facto, São Paulo tem encanto... visto do céu e esta semana uma parte do "Você está aqui!" vai estar no Quid.
quinta-feira, setembro 21, 2006
Chávez tem razão
No site das Nações Unidas encontra-se a seguinte lista de oradores na Assembleia Geral:
- General Emile LAHOUD;
- Mr. Hugo Chávez FRÍAS;
- Mr. Esteban Lazo HERNÁNDEZ;
- His Highness Sheikh Abdullah Bin Zayed AL NAHYAN;
- Mr. Robert Gabriel MUGABE;
- Mr. Joseph KABILA KABANGE;
- Mr. Abubakar AL-QIRBI;
- General Pervez Musharraf
- ...
Com um elenco de oradores como este, é óbvio que as Nações Unidas não passam de um megafone para ditatores e são, de facto, e tal como Chávez afirma, inúteis. Talvez viesse destas más companhias o cheiro a enxofre na sala.
segunda-feira, setembro 18, 2006
Esquiringuindum - Crónicas do Brasil
Não sei quantos habitantes tem São Paulo e tenho seríssimas dúvidas que alguém saiba. Uma coisa é certa: são demasiados. A minha primeira semana na capital da América Latina serviu para confirmar as suspeitas que já tinha: é uma cidade infecta com um gigantesco esgoto a céu aberto com águas negras , o nome pomposo de rio e um cheiro fétido que se sente a quilómetros; um céu permanentemente cinzento que mal se adivinha por entre as lágrimas causadas pela poluição; demasiados carros - culpa evidente do excesso de pessoas - que devem anos à sucata e uma população gigantesca de "caminhões" e "treminhões" que confluem para as duas "marginais" eternamente saturadas; umã exposição permanente de má arquitectura, péssimo urbanismo e utilizações criativas de restos de materiais de construção. Ah, também é o centro financeiro do país que é o que obriga muitos incautos, como eu, a vir cá.
Se há pontos positivos em São Paulo? Não me lembro, mas há várias auto-estradas que saem da cidade e fiz o que faria qualquer pessoa com um cérebro saudável: fugir da cidade na primeira oportunidade à procura de ar. No meu caso, foi no primeiro fim-de-semana.
segunda-feira, setembro 11, 2006
It takes two...
Para não quebrar a tradição, este blogue volta a festejar o aniversário com atraso. Foi no dia 9 que o Quid cumpriu dois aninhos de vida. Como presente, ganhou uma viagem a uma das maiores cidades do mundo e vai estar a blogar de cabeça para baixo nos próximos tempos.