"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Lista de Epifanias IV (*)


The Picture of Dorian Gray

All art is quite useless.
Oscar Wilde, Prefácio a The Picture of Dorian Gray
(Só para que conste.)


(*) Contributo - em citações que não sei se me mudaram a vida, mas não me saem da cabeça - para a discussão do momento.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Lista de Epifanias III (*)


The Waves

‘I see a ring,’ said Bernard, ‘hanging above me. It quivers and hangs in a loop of light.’

‘I see a slab of pale yellow,’ said Susan, ‘spreading away until it meets a purple stripe.’

‘I hear a sound,’ said Rhoda, ‘cheep, chirp; cheep chirp; going up and down.’

‘I see a globe,’ said Neville, ‘hanging down in a drop against the enormous flanks of some hill.’

‘I see a crimson tassel,’ said Jinny, ‘twisted with gold threads.’

‘I hear something stamping,’ said Louis. ‘A great beast’s foot is chained. It stamps, and stamps, and stamps.’
Virginia Woolf, The Waves
(O melhor livro de todo o sempre, by the way, para qualquer pessoa de bom gosto)

(*) Contributo - em citações que não sei se me mudaram a vida, mas não me saem da cabeça - para a discussão do momento.

domingo, setembro 09, 2007

Lista de Epifanias II (*)


Dubliners

Generous tears filled Gabriel’s eyes. He had never felt like that himself towards any woman, but he knew that such a feeling must be love. The tears gathered more thickly in his eyes and in the partial darkness he imagined he saw the form of a young man standing under a dripping tree. Other forms were near. His soul had approached that region where dwell the vast hosts of the dead. He was conscious of, but could not apprehend, their wayward and flickering existence. His own identity was fading out into a grey impalpable world: the solid world itself, which these dead had one time reared and lived in, was dissolving and dwindling.
James Joyce, 'The Dead', Dubliners
(Porque Joyce é genial, mas não só no Ulysses)

(*) Contributo - em citações que não sei se me mudaram a vida, mas não me saem da cabeça - para a discussão do momento.

Maturidade?


Três

E ao terceiro ano, acertei na data!
Parabéns ao Quid (e aos irmãos gémeos).

sábado, setembro 08, 2007

Lista de Epifanias (*)


Women in Love

He knew that Ursula was referred back to him. He knew his life rested with her. But he would rather not live than accept the love she proffered. The old way of love seemed a dreadful bondage, a sort of conscription. What it was in him he did not know, but the thought of love, marriage, and children, and a life lived together, in the horrible privacy of domestic and connubial satisfaction, was repulsive. He wanted something clearer, more open, cooler, as it were. The hot narrow intimacy between man and wife was abhorrent. The way they shut their doors, these married people, and shut themselves in to their own exclusive alliance with each other, even in love, disgusted him. It was a whole community of mistrustful couples insulated in private houses or private rooms, always in couples, and no further life, no further immediate, no disinterested relationship admitted: a kaleidoscope of couples, disjoined, separatist, meaningless entities of married couples. True, he hated promiscuity even worse than marriage, and a liaison was only another kind of coupling, reactionary from the legal marriage. Reaction was a greater bore than action.
D.H. Lawrence, Women in Love

(*) Contributo - em citações que não sei se me mudaram a vida, mas não me saem da cabeça - para a discussão do momento. Presumo que se possa considerar uma lista.

quarta-feira, julho 18, 2007

Cronograma da imbecilidade à brasileira


HTML Dog

2006
Um avião da GOL choca em pleno ar. Até agora, a culpa não é de ninguém, mas, de repente, descobre-se que os controladores aéreos são analfabetos e insuficientes e que nenhum aeroporto está em condições. Está instalado o caos aéreo no país. Lula pede uma data limite para a resolução do problema. Continua à espera.

2007
Um juiz proíbe a utilização do aeroporto de Congonhas. Com um jeitinho do governo, autoriza-se a utilização desde que se encerre o aeroporto quando chover (!).

(Citações da Folha)

Maio
Por determinação da Justiça e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a pista principal do terminal --que está mal conservada e passará por reformas neste ano-- deve ser bloqueada sempre que a água acumulada sobre o asfalto ultrapassa 3 mm (um milímetro equivale a um litro de água por um metro quadrado), para evitar que os aviões derrapem. As obras visam a sanar o problema.

Junho
Depois de passar por reformas, a pista principal de Congonhas foi liberada para pousos e decolagens no dia 30 de junho. No entanto, ela foi liberada sem que fosse feito o grooving (ranhuras para dar mais aderência aos pneus dos aviões e facilitar o escoamento da água).

Julho, dia 16 - chuva em São Paulo
A superintendência regional da Infraero em São Paulo descartou problemas na pista principal do aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo), local onde uma aeronave da empresa Pantanal derrapou na segunda-feira (16).

Julho, dia 17 - chuva em São Paulo
O vôo 3054 da TAM --com passageiros a bordo-- derrapou na noite desta terça-feira quando pousava no aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo) e bateu contra um depósito da empresa que fica do lado oposto da avenida Washington Luís. O choque provocou um incêndio de grandes proporções.

Para ajudar à festa, algum inteligente autorizou a abertura de um posto de gasolina à frente da cabeceira da pista.

segunda-feira, julho 16, 2007

Tanga


Madres de Mayo

Tinha de ser assim. Depois de 34 anos à espera, caí de pára-quedas em Buenos Aires. À pressa, sem tempo de preparar nada e só por um dia e meio. Tive vontade de me fechar no hotel a beber mate e a ouvir Piazzolla e fingir que não tinha ido, mas não resisti e fiz uma mini-visita. De qualquer forma, para todos os efeitos, ainda nunca fui.
Que mania que a vida tem de não seguir os planos.

quarta-feira, junho 20, 2007

"Suplícyo"

Carta Aberta à Sra. Ministra do Turismo

Exma. Sra.,
Tendo-me deslocado a São Paulo em trabalho resolvi, no fim-de-semana passado, seguir o conselho de V.Exa e, ignorando a venenosa imprensa para cujos nefastos hábitos de desqualificar o turismo nacional o Sr. Presidente nos alertou, viajar de São Paulo para Florianópolis para desfrutar das inúmeras belezas naturais que o país de V.Exa. oferece.
Devo confessar que o início da viagem, ao longo da Marginal do Tietê, me desanimou um pouco, mas mesmo tossindo, de olhos carregados de lágrimas, lenço no nariz e com o taxista a falar de uma tal "cidade limpa" que confesso não encontrar, persisti no suplício (perdoe o trocadilho) por mais algumas horas.
Chegado ao aeroporto de Cumbica pensei ter sido levado para um desse mercados que não existem para o fisco nem para a polícia, mas onde metade da cidade faz compras. Estava equivocado e, na realidade, as inteligentíssimas linhas aéreas em que ia voar tinham mesmo umas banquinhas nessa feira (eles usam o termo inglês check-in). Numa das bancas dizia, em bom português - coisa raríssima - tratar-se do balcão para os passageiros que viajam sem bagagem, pelo que me dirigi para a fila de cinquenta pessoas e quatrocentas malas que se formava diante de cerca de 30 geniais funcionários dos quais um - posso atestá-lo - estava efectivamente a olhar para o computador. Tratando-se de linhas aéreas de Q.I. elevado, surgiu imediatamente uma funcionária de PDA em riste que começou a realizar o check-in do final da fila para o início presume-se que numa perspectiva que os últimos são sempre os primeiros. Ou teria realizado - pelo menos de uma pessoa por hora, dado o ritmo alucinante - se o PDA funcionasse. Infelizmente, não era o caso, pelo que tive de aguardar cerca de 45 minutos para chegar junto da iluminada funcionária das brilhantes linhas aéreas que me esclareceu que:
- um balcão sem bagagem serve tanto para o check-in de passageiros com bagagem como sem bagagem;
- que a placa dizia "sem bagagem" porque o balcão era para passageiros sem bagagem;
- que a placa às vezes se enganava;
- que "pois, pois" eu era um "patrício";
- que o o voo sairia eventualmente, embora não soubesse precisar quando;
- e, finalmente, que estava muito honrada com a minha inteligente "escolha" (palavra utilizada abusivamente no que se refere às companhias aéreas no Brasil).
Dirigi-me para o saguão - não sem antes passar por uma fila que saía do edifício do aeroporto constituída por passageiros da outra companhia aérea - a não tão esperta - e foi então que, lembrando-me das palavras de V.Exa., decidi "relaxar" enquanto ouvia anúncios berrados no alta-voz acerca de voos adiados em catadupa, mas por muito que procurasse por uma cadeira livre para me sentar na posição de lótus e reflectir no meu karma, não encontrei nenhuma, sem ser ao lado de um cavalheiro que atirava fumo para cima do sinal de "Proibido Fumar". No entanto, como V.Exa. já terá percebido, sou teimoso e não me deixo derrotar por pouco. Assim sendo, resolvi "desfrutar" da magnífica infraestrutura aeroportuária. Acontece que tenho gostos muito sui generis e meti na cabeça que tinha de beber uma garrafa de água. Sei que se trata de algo praticamente impossível de encontrar em qualquer aeroporto do mundo, mas, ainda assim, tinha esperança. Infelizmente, as minhas expectativas goraram-se e só me restou aguardar de pé até às três da manhã quando as macrocéfalas linhas aéreas fizeram a primeira das habituais dez "últimas chamadas" para embarque. Curiosamente, não realizaram um único pedido de desculpas.
Para realizar um psicotécnico às intelectuais linhas aéreas, troquei de cartão de embarque com a amiga que me acompanhava. E não é que embarcámos os dois? Juro-lhe que não vesti saia nem ela deixou crescer bigode, mas mesmo com 1,90 m de altura e barba por fazer, embarquei como Maria. Talvez seja porque as linhas aéreas de intelecto superior não verificam a identificação dos passageiros. Agora que penso nisso, talvez também seja esse o motivo pelo qual estava um senhor americano sentado no meu lugar no avião que queria ir para Curitiba no voo que ia partir da porta de embarque ao lado. Obviamente, trata-se de uma suposição não fundamentada. Também pode ser que o turista americano não tenha entendido o inglês avançado das cultíssimas linhas aéreas que são as únicas no mundo com "fligth attendants" e "cabin chefs".
Receei que se tivesse passado algo semelhante quando finalmente aterrámos em Florianópolis, mas não. O piloto acertou na rota e aquele barracão tem mesmo o nome pomposo de aeroporto. Devo dizer-lhe que Florianópolis às quatro da manhã deve ser lindo. Estivesse eu acordado no táxi e não tivesse levado cerca de oito horas para realizar a viagem e teria certamente visto esse espectáculo. O regresso foi quase tão mau, mas não vou maçá-la com mais detalhes. Se me permitir só a audácia de um conselho, aqui fica: relaxe e desfrute, vá de férias para o México.

Melhores cumprimentos,

Sugestão para o Sr. Ministro (*)


Camelódromo

(*) Sim, eu sei que a frase do deserto já foi há algum tempo, mas só fui a Floripa este fim-de-semana.