"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Grande Prémio Sucata


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Sendo Mexicali, como a generalidade das cidades fronteiriças do México, basicamente um enorme parque industrial dos Estados Unidos, alguém teve a brilhante ideia de construir uma linha de comboio para transportar as mercadorias para o outro lado da fronteira. A ideia parece razoável: facilitam-se os trâmites de importação e exportação com postos nas estações e evitam-se filas intermináveis de camiões TIR na fronteira. Os comboios e a linha são velhísimos, mas também só têm de percorrer uns vinte quilómetros pelo que o investimento num TGV só se justificaria se isto fosse Portugal.
O único detalhe que me desagrada é a escolha do percurso: a linha de comboio passa pela avenida principal de Mexicali (o pomposo Bulevar López Mateos), escolha que presumo dever-se a facilidade de entrada em Calexico. Ora isto significa não só que o trânsito é caótico porque cada vez que passa um comboio fecha cerca de 20 dos mais importantes cruzamentos da cidade - e passa um comboio a cada meia hora - como torna impossível dormir porque o hotel - o único digno desse nome - também está na mesma avenida.
Obviamente, não existem passagens de nível o que significa que o comboio vem a apitar todo o percurso. Ininterruptamente. A esta altura até já me habituei e serve como despertador. Ouço o primeiro apito, ponho a almofada por cima da cabeça e viro-me para o lado porque são 5:30 da manhã. Passado meia-hora, ouço o segundo e faço o mesmo. Ao terceiro apito, salto da cama que está na hora. Hão-de convir que é prático.
Como se não bastasse o comboio, o máximo do entretenimento em Mexicali é o street racing. Fá-los sentir americanos. A quantidade de caros "tunados" que existe nesta cidade é inacreditável e, normalmente, tal como em Portugal, o "tuning" é feito nas maiores chaleiras existentes para ficarem ainda mais barulhentas.
Como não podia deixar de ser, a pista é a avenida principal e a corridas realizam-se regularmente às quintas-feiras depois da meia-noite. Ontem, tive mais uma vez o privilégio de assistir de camarote-liteira ao Grande Prémio Sucata Mexicali com a barulheira inerente.
O pior é que quando começo a conseguir ignorar o ruído dos motores e das travagens, há alguma alma que se lembra de chamar a polícia. Eles vêm sempre, três ou quatro carros de uma vez, expeditos e com as sirenes ligadas às 3 da manhã.
E agora vou até ali ver se durmo.