Short Message Story
Já não se usam os maços de cartas, os envelopes amarelecidos que se guardavam para reler mais tarde o que nos tinham escrito. Agora, há pastas virtuais com milhares de emails guardados sem lacinhos à volta ou mensagens ainda mais curtas das quais não nos quisemos separar na altura e que guardámos no telemóvel ou - para os mais modernaços - no PC para onde as transferimos por Bluetooth. Andava eu nas ciber-limpezas quando me ocorreu: o que será das biografias no futuro? Alguém imagina a correspondência entre Pessoa e Sá-Carneiro transformada em SMS entre os dois? E a literatura epistolar? Haverá colecções de emails trocados? E os SMS, serão capazes de nos contar uma história? Se uma das virtudes da literatura epistolar (especialmente quando recolhe só as cartas - verdadeiras ou ficcionais, pouco importa - de uma das partes) é a do campo que deixa aberto à imaginação do leitor, o valor da resposta ausente, não serão os SMS ainda mais virtuosos na sua concisão? No fundo, a pergunta é - desculpem os puristas, mas só faz sentido em inglês - "Just how short can a short story be?"
Foi o minimalismo narrativo que achei intrigante e que decidi juntar a outra espécie em extinção, recuperada após o abandono pelos jornais: um folhetim em SMS na blogosfera.
Sem dúvida, uma ideia absurda causada pela excessiva proximidade do pólo magnético, mas de qualquer forma aqui fica o primeiro episódio do SMS - Short Message Story? na esperança que, no fim, conte uma história.
Mrning! Still standing at bus
stop outside Watermans with black
lady waiting 4 u 2 return.
Promise u will call.
J.
Remetente:
+44787018XXXX
Enviada:
12:54:00
10-05-04
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