Fá-lo

Submissão feminina a James Dean em posição falocêntrica

Imaginem uma sala cheia de mulheres inteligentíssimas - vindas sabem Deus, Alá ou Buda de onde - reunidas na universidade onde Virginia Woolf estudou para um curso sobre as representações do feminino no romance inglês. Agora imaginem um palerma português do sexo errado lá no meio. Foi nos idos do século XX quando ainda achava que um mestrado em Letras era coisa que se fizesse.
Que estratégia adoptar? Comecei por tentar ficar calado, mas não só tenho muito pouco jeito para isso como a minha presença era demasiado evidente para ser ignorada. Comecei a ser solicitado para expressar opiniões do ponto de vista da minha espécie: "Não concorda que em Jude the Obscure, Thomas Hardy é claramente misógino ao desprover a protagonista da profundidade intelectual reservada aos homens?"; "Enquanto homem, não acha infinitamente superiores as obras de Jane Austen condenadas pelo patriarcado durante tanto tempo à categoria de romance de cordel?". E por aí fora. Havia falos por todo o lado: Stephen Warren Smith a atirar-se da janela em Mrs Dalloway era uma atitude falocêntrica; a recusa de Mr Darcy em dançar em Pride and Prejudice; Rupert e Gerald em Women in Love, etc. Embora muitos dos temas fossem relevantes, a linha do PC estava sempre presente e lembro-me perfeitamente quando explodi com um "Oh, for God's sake!" demasiado audível e com excesso de testosterona. A teoria de uma coreana, nem sei a que propósito veio, era que a Pequena Sereia não só demonstrava o desejo masculino de negar as mulheres a sua sexualidade privando-a de órgãos genitais, como reforçava a ideia da submissão feminina pois ela é que teve de mudar (para humana, neste caso) para seguir o seu amor.
Vem isto tudo a propósito do João Miranda e do que alguém baptizou como anti-mirandismo blogosférico e este post serve apenas para dizer que quando o nível de falos, reais ou imaginários, excede o razoável, há mesmo que fazê-lo e dizer que não se vê falo nenhum. O mesmo se aplica a plumas.