"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

terça-feira, novembro 29, 2005

America's Finest City

Balboa Park

Museum of Man, Balboa Park, San Diego

Quando é que uma cidade passa a ser nossa? Em que preciso momento é que, por assim dizer, assinamos a escritura? Há algum tratado das Nações Unidas sobre a posse das cidades, detalhando os requisitos para o reconhecimento internacional da propriedade? Uma World City Ownership Association? É quando temos um bar onde já sabem que é Bombay Tonic o que têm de nos servir? Ou quando para irmos à nossa livraria sabemos que temos de estacionar a dois quarteirões, naquela rua sem saída onde há sempre lugar? Quando, exactamente, é que assumimos o compromisso e, de joelhos, comme il faut, nos declaramos?
Lisboa sabe perfeitamente que eu tenho outras. Temos uma relação aberta. Eu também sei que ela passa a vida a flirtar com estrangeiros quando estou fora, mas não me importo. Como em todas as relações modernas, a regra é que os outros só podem ser affaires. Nada de sério: paixonetas por um edifício, um coup-de-coeur por um parque ou por uma rua. Ela também adora seduzi-los com uns reflexos no rio ou com a luz em Alfama. Não é infidelidade, é vaidade.
Em São Francisco, sempre me falaram mal de San Diego. Acho que nunca ouvi ninguém dizer o nome da cidade sem revirar os olhos acrescentando num esgar de snobeira "Southern California should have stayed in Mexico". A imodesta San Diego, auto-intitulada America's Finest City, respondia, na altura, com uns cartazes onde se lia algo como: "Aquela bola por detrás do nevoeiro chama-se sol. Venha vê-lo a San Diego". A verdade é que o que falta a San Diego em carácter, algo de que São Francisco pode acusar - e acusa - praticamente todas as outras cidades do país, é largamente compensada pela beleza natural das baías e praias, pela vida cool e descontraída de calção, chinelo e prancha de surf opcional.
Foi assim que ela me apanhou, de calção e chinelo, a passear por Balboa Park este fim-de-semana.

P.S. Como em todas as cidades americanas, é altamente irritante ver quão fantásticos são os parques. Balboa Park tem vários museus, jardins japoneses, restaurantes, um órgão fabuloso com concertos ao ar livre. Monsanto tem o quádruplo da área com prostitutas e esquilos.