Eriçadores de Pêlos II
Nas mega-irritações quotidianas há uma que é uma espécie de "pet irritation", que me põe os pêlos e sentido e me atira com o sangue para a cabeça em passo de corrida. Começa sempre com uma compra que um qualquer inocente tenta pagar. Antes de ter tempo de respirar, é atacado pela pergunta, feita com ar de suspeição e olhar de desprezo: não tem mais pequeno?
A pergunta pode ter variações - Não tem trocado? Não tem os 37 cêntimos? - mas traz sempre implícita a teoria da conspiração desenvolvida pelos comerciantes nacionais de que todos nós arrecadamos moedas em casa e nos bolsos para lhes dificultar a vida. Quando queremos pagar 50 cêntimos, damos uma nota de 50 euros na esperaça que o troco venha em moedas de 10 e 20 cêntimos para juntarmos à colecção que mantemos em casa com o objectivo de esvaziar todas as caixas de todos os cafés, pastelarias e afins do país. Mas, ainda assim, eles perguntam sempre, porque sabem que confrontados com a nossa obsessão pelo arquivo numismático de bolso, fazemos surgir o valor certinho e evitamos que tenham de fazer contas para o troco.
As coisas ficam ainda piores quando me dizem "não tenho troco para isso". Na boa tradição do serviço nacional, é responsabilidade do cliente - esse imprestável - pagar de forma a evitar a menor disrupção da caixa do vendedor. O que implica, obviamente, trazer de casa um saquinho com moedas para liquidar as suas dívidas.
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