"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

domingo, maio 15, 2005

Eriçadores de Pêlos I

HTML Dog


Há coisas que me irritam. Não daquelas irritaçãozinhas banais afastadas com um suspiro e um encolher de ombros, mas irritaçõezorras de bufar, andar para trás e para a frente, bater o pezinho sincopadamente no chão para evitar outras síncopes. Normalmente, são banalidades que não merecem demasiada atenção, mas que, repetidas constantemente, convertem qualquer um a uma espécie de Hare Krishna de auto-controlo. Obviamente, sendo banalidades, não se pode protestar de forma demasiado veemente sem se passar por neurótico psicopata obcecado com miudezas e foi por isso que essa semana decidi partilhar as minhas neuroses aqui, onde não corro o risco de que chamem a polícia para me retirar do local.
O primeiro eriçador de pêlos tem, como não podia deixar de ser, a ver com a viagens aéreas. Já repararam que quando se faz o check-in os funcionários pegam sempre numa canetinha e fazem uns círculos mal-amanhados no cartão de embarque? O local exacto varia, mas normalmente os rabiscos andam nas imediações da porta de embarque, da hora de embarque ou do lugar. A sério: em todas as viagens tenho de me controlar para não pedir uma segunda via não rabiscada do cartão de embarque. Apetece-me sempre perguntar-lhes a que propósito estão a rabiscar o MEU cartão de embarque e devolvê-lo imediatamente. Por que raio hão estes zelosos funcionários de fazer bolinhas em coisas que já estão em letras garrafais, em cor diferente e que, como se não fosse suficiente, já nos disseram verbalmente! O sistema resolve o problema de qualquer surdo ou cego, mas eles lá estão, em todo o mundo, de sorriso nos lábios e BIC em riste prontos a fazer bolinhas inúteis em milhares de cartões de embarque. Estão convictos que o azul da BIC deles - que por sinal falha sempre a área a destacar - é infinitamente mais eficaz do que as letras gigantescas ou o fundo amarelo.
Estou francamente convencido que eles acham que se não fizerem a bolinha nós nos vamos perder e andar à deriva pelo aeroporto à procura da porta de embarque, queixando-nos, qual criança abandonada na Caparica em Agosto, que o cartão não tem bolinha. E que, na hipótese remota de encontrarmos o avião, receberiam imediatamente uma chamada dos colegas a perguntar onde sentar o passageiro sem bolinha.