"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

A "Tolerância"

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Se há coisa que me irrita profundamente é a forma como os clientes são tratados em Portugal. Ainda hoje fui confrontado com mais um exemplo do desprezo a que nos veta quem vive do nosso dinheiro, reforçado por uma situação de monopólio estatista.
O aeroporto de Lisboa tem, como todos os outros, uma série de lojas e cafés cujo direito de exploração é atribuído pela empresa de exploração de aeroportos. Tendo em conta que o primeiro voo a partir do aeroporto de Lisboa sai por volta das 5:30 seria de esperar que nos contratos de exploração as lojas fossem obrigadas a estar abertas a essa hora, mas a grande maioria abre às 07:00. Para já não entendo os critérios da ANA que deixam cada loja abrir à hora que mais lhe convier, mas entendo ainda menos que com grande parte dos voos a saírem de Lisboa entre as 7:15 e as 8:00, se permitam que abram apenas às sete. O cliente que, como eu, chega ao aeroporto às 06:30, faz o check-in e recebe um cartão que diz embarque a partir das 06:50 ou não toma a bica matinal - o que está fora de questão até porque poderia gerar cenas de violência a 30 mil pés - ou arrisca-se a ouvir uma senhora dizer o seu nome em tom ameaçador enquanto está a pôr o açúcar e ordenando-lhe que vá imediatamente para a porta de embarque ou fica em terra.
Mas voltando ao caso de hoje, no aeroporto (na parte pós check-in) há uma única papelaria que vende cigarros. Ora tendo em conta que por cá eles custam 6 libras, abasteço-me sempre em terra antes de vir para o mar. Esta papelaria abre teoricamente às 07:00 (já depois da minha hora de embarque), mas NUNCA abriu a essa hora e há sempre uma fila de gente à porta para comprar o jornal, etc. Hoje de manhã estava eu nessa fila às 07:10 (já a ver se ouvia o meu nome) quando chegam três funcionárias três rindo alegremente e dizendo a outra que passava "Hoje adormecemos".
Uma senhora ainda mais deseperada do que eu perguntou-lhes então se iam abrir.
"Ainda não, ainda temos de arrumar os jornais."
Perguntei-lhes então qual era o horário de abertura da loja ao que me respondeu uma empregada de franja loira pintada e com tanta laca que parecia saída de "Os Três Duques" ou do "Dallas":
"É às sete, sete e um quarto."
"Desculpe? É às sete ou é às sete e um quarto?"
"É às sete, mas há sempre uma tolerância"
"Pois, os aviões é que não têm tolerância", tirou-me a senhora as palavras da boca.
Péssimos empregados destes há em todo o lado e só há uma solução que é despedi-los. Com uma certa tolerância até se lhes pode dar uma semana de pré-aviso porque se não lhes ocorre chegarem às seis e meia para abrirem a loja pontualmente às sete também se poderia talvez ser tolerante com os salários e pagar-lhes mais ou menos no fim do mês e com um valor mais ou menos fixo.
Mas a questão mais grave é que a ANA, que gere aquele espaço e outros em regime de monopólio permite que uma loja que nunca cumpre o horário de abertura lá permaneça. Em vários centros comerciais, 15 minutos de atraso na abertura da loja já equivale a uma multa, mas como a ANA vive do nosso dinheiro pode ser tolerante e prestar-nos um mau serviço. Menos mal que se assume como "um grupo de gestão aeroportuária de referência a nível de qualidade, rentabilidade e aproveitamento de novas oportunidades de negócio". Aqui fica uma dica: querem oportunidades de negócio? Abram mais cedo!