Clueless

Francamente, transcende-me. Admito desde já que este é um post de quem não percebe nada do tema sobre o qual escreve, de quem não consegue atingir sequer um limite mínimo de entendimento das motivações por detrás dele. Refiro-me às imagens que me entram pela TV do congresso de um tal PCP que pode parecer que ainda existe, mas que uma análise mais detalhada mostra tratar-se de uma gravação de 1975 recuperada pela RTP Memória. Só isso pode explicar a existência de tamanho anacronismo: desde as roupas de época - datadíssimas hoje em dia - ao discurso ultrapassado - "operariado, massas trabalhadoras, intelectuais e mulheres" -às teorias e gritos de vivas ao Marxismo-Leninismo enviados por um espectral ex-líder transformado em arauto da boa nova, tudo cheira a mofo, tudo tem bolor, tudo causa repulsa.
Um delegado de Santo Tirso atreve-se a sugerir o direito de propor uma lista e é enxotado em nome da "democraticidade" e do "amplo debate", outro aventura-se num pedido de renovação que mal se ouve entre vaias, o líder que sai tem 150 anos e o que entra 220, os "jovens" do partido nasceram em 1980 mas vivem em 1968, de lenços palestinianos ou "étnicos" para os mais modernaços e perigosamente BE, convidam-se como referência oradores desses exemplos de desenvolvimento social e humano que são os países da América Latina; atiram-se conceitos pomposos e vazios de conteúdo para o ar, ele há "ataques neo-liberais", ele há "avanços imperialistas", ele há por aí uma "luta do povo português", ele não há "capitulações ideológicas" de uma ideologia que já desbotou por estar impressa num tecido que já não existe, cujos fios se foram separando e integrando noutros novelos que voltaram ao tear irreconhecíveis.
Nada disto faz sentido, nada disto já têm relevância e só os media fascinados pela putrefacção registam as últimas convulsões e espasmos da criatura em agonia.
O meu avô chamava-lhes "barbudos", nunca os dignificava com um nome, "Olha, mais um barbudo. Só barbudos!" Parece que ainda há 1200.