"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

quinta-feira, setembro 09, 2004

O Caldo

Segundo o DN, a União da Imprensa Regional quer a obrigatoriedade da publicação de todos os registos feitos em conservatórias nos jornais regionais. Porquê? Porque, segundo o Presidente da União, envolve "muitos milhares de euros".
Vamos por partes. O Governo prepara-se para alterar a legislação acerca do porte pago - apoio estatal à distribuição da imprensa regional - reduzindo-o em dez por cento a partir de Janeiro do próximo ano. A medida é de louvar e só peca por insuficiente. A imprensa regional não encontrou ainda um modelo de funcionamento economicamente viável e subsiste, em grande parte, graças a este subsídio semi-encapotado.
Já no decreto que o institui se previa o que se passa: as novas tecnologias, a rapidez de circulação da informação e a globalização não deixam aos jornais (regionais ou não) alternativa que não seja encontrarem as mais-valias que justifiquem a sua existência, como aliás a qualquer outra empresa. Foi essa procura que se subsidiou sem resultados conhecidos.
O outro argumento dado era o de um direito à informação que seria necessário garantir dada a proliferação da informação. Sem comentários.
A verdade é que durante anos o Estado manteve órgãos regionais através do porte pago. Agora quer reduzir a sua contribuição.
Na melhor tradição do caldo queirosiano, a União da Imprensa Regional surgiu imediatamente com a cura milagrosa. Obviamente, não lhes ocorreu conquistar leitores. Se os leitores não estão interessados nas publicações, peça-se dinheiro ao Estado. A notícia não o refere, nem a União mas este subsídio - porque é disso que se trata - cairá inevitavelmente nos cidadãos e empresas que se dirijam às conservatórias para realizar registos. Quer a União uma garantia de negócio, uma espécie de "vendas mínimas garantidas" de publicidade.
É bom negócio, para os jornais regionais que certamente ganharão mais assim do que através do porte pago a 100%. Esperemos que o governo seja coerente e não o feche.