Viagens na Minha Terra
Ao fim de um ano e meio, mandaram-me trabalhar para Portugal. Não é coisa que se faça. Não me interpretem mal: não me importo nada de estar em casa uns tempos até porque há uma série de gente fantástica que ainda se lembrava da minha cara, mas trabalhar é que não. Tudo menos trabalhar em Portugal. É o drama da minha vida: quero viver cá, mas não quero cá trabalhar. Obviamente, esta situação só se resolve com o Euromilhões que insiste em não me sair - talvez porque não jogo.
Há uma série de coisas que me irritam de forma inacreditável no trabalho em Portugal e que, nestas viagens pela minha terra, vou tentar passar em revista esta semana.
No ranking dos eriçadores de pêlos nacionais, em primeiríssimo lugar está a parolada do "Doutor". Não aguento. Tira-me literalmente do sério. Onde quer que uma pessoa vá, é Sr. Dr. para aqui, Sra. Engenheira para ali. Em Portugal, não existem pessoas, existem títulos académicos. Isto não é um país é um campus gigantesco. Claramente, esta bimbice dos títulos académicos é não só reveladora do provincianismo nacional, mas também de uma ética empresarial em que o mérito é menos relevante do que o título que antecede o nome e em que um formalismo pretensioso se sobrepõe ao pragmatismo. Como sempre, a situação é ainda pior nos serviços do Estado por onde pululam hordas de doutores de diplomas afixados no gabinete.
E o pior é que não adianta dizer que se dispensa o doutor antes do nome: o pedido é ignorado, normalmente por receio da reciprocidade que privaria o interlocutor de ouvir a palavra mágica. Pela minha parte, e mesmo correndo o risco de passar por malcriado, podem tirar o diploma da chuva que não a vão ouvir.
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