Transubstanciação
Embora, em princípio, todas a críticas me parecem legítimas num espírito democrático de liberdade de expressão, o chorrilho de disparates que se têm dito acerca do novo papa tira-me do sério. Não pela crítica fácil e tablóide de que Ratzinger era Nazi, ignorando deliberadamente as condições em que essa "filiação" - obrigatória, por sinal - ocorreu; nem pelas críticas ao conservadorismo numa óbvia exibição de ignorância da natureza intrínseca da igreja. O que me parece inaceitável é a incongruência de se dizer numa só frase: "Eu, como católico, não concordo ou não aprovo esta escolha".
Por cá, tenho visto vários grupos de "católicos" com afirmações semelhantes, seja pelas posições de Ratzinger acerca do aborto, da sexualidade ou do multiculturalismo.
Acontece que na condição de católico há uma série de premissas que anulam a possibilidade dessa discordância. Um católico acredita que o Papa é o sucessor de Pedro, aquele a quem Cristo deixou as chaves do reino dos céus, e que é Cristo que lhe entrega o primado sobre a sua Igreja na terra. Por outro lado, acredita que o conclave é sacro e que as suas escolhas têm por base o Espírito Santo. Ou seja, alguém que se diz católico e discordante afirma que o Espírito Santo escolheu mal e que Cristo não lhe devia ter entregue nada. Não admira que a Igreja lhes reserve o anátema.
A outra hipótese é a existência de um qualquer milagre de transubstanciação que transforme bloquistas em católicos.
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