"Quid Rides? De te fabula narratur." Horácio.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Mesa de Cabeceira

HTML Dog


Membro do Violet Quill (grupo de "escritores gay" de Nova Iorque nos anos 80), descobri Edmund White pela ordem errada graças à tradução em português do segundo volume da sua trilogia autobiográfica (The Beautiful Room is Empty, precedido de A Boy's Own Story e sucedido por The Farewell Symphony). Descobri depois os outros romances que lhe tinham valido a aclamação de, entre outros, Nabokov e, finalmente, os ensaios coligidos em The Burning Library.
White é um dos defensores acérrimos da existência de uma "literatura gay" não justificada pela sexualidade do autores, mas pela sensibilidade e a condição social dos mesmos. Cito-o em "Out of the Closet, on to the Bookshelf", um dos ensaios da biblioteca a arder:
Gay fiction, written by anguished writers for readers in disarray, is under extraordinary pressures. Holocaust literature, exiles' literature, convicts' literature - these are the only possible parallels that spring to mind. Seldom has such an elusive and indirect artistic form as fiction been required to serve so many urgents needs at once.
Nunca concordei com a existência de uma literatura gay (como nunca concorder com a de uma literatura feminina) por uma razão simples: reduzir o valor de uma obra ao sexo, sexualidade ou ao papel mais ou menos panfletário descrito por White acima é negar a essa obra o valor de literatura. Cheira-me a quotas nas bibliotecas e nos programas escolares e tresanda-me a marxismo.
O valor das obras de Virginia Woolf não advém do facto de terem sido escritas por uma mulher e as de White ou as de outro escritor que seja gay também não devem basear-se nisso ou no papel social que eventualmente desempenhem, mas sim no seu valor literário intrínseco. Na histeria académica dos feminist studies e mais tarde dos gay studies, além de se verem falos nos locais mais insuspeitos, promoveram-se muitos medíocres pelas razões erradas.
Não foi o caso de Edmund White e voltando ao tema original deste post, o que me chamou a atenção neste "Fanny" foi o facto de um escitor gay defensor de uma literatura gay e de uma literatura com um papel social nos direitos dos gays ter escrito uma biografia ficcionada de duas mulheres heterossexuais: Fanny Trollope - mãe do escritor Anthony Trollope - e Fanny Wright a feminista radical escocesa.
Está na mesa de cabeceira e vou à procura da sensibilidade gay nas páginas e depois prometo que volto para contar se a encontrei.