¿De qué se reían?
O ar abatido e frágil não faria supor que viria dali, de uma mulher vestida de luto e lacrimejante, uma lição de cidadania aos deputados da nação. Mas veio.
Em tom calmo q.b. e até mesmo frio, Pilar Manjón, mãe de uma das vítimas do 11 de Março em Madrid, expôs o ridículo a que chegou a política - e não nos enganemos, não é só a espanhola.
Entre guerrilhas inter e intra-partidárias, obsessões eleitorais e carreirismos, os políticos esqueceram-se de quem são e do que é a política. Pilar relembrou-lhes dizendo-lhes que havia um mundo para além do umbigo deles acusando-os de ter criado la Comisión de ustedes y para ustedes. Acusou-os também de a usarem - a ela e a outras vítimas, como em Portugal as de Entre-os-Rios ou da Casa Pia - para fins partidários.
Sem qualquer confiança nos políticos que a representam, pediu-lhes então que lhe dessem alguém que represente o povo. E eles assentiram, eles que são os representantes do povo, aceitaram que não o representam adequadamente e que são precisos outros para o fazer. De cabeça baixa, qual criancinhas apanhadas em flagrante a fazer disparates.
De que servem então estes parlamentos se não para alimentar egos e aparelhos partidários? Como pode esta gente admitir que falha na sua principal missão e ter a distinta lata de aparecer nas Cortes no dia seguinte?
A mãe sem filho deu um merecido raspanete às criançolas que brincam com a vida alheia nos seus joguinhos parlamentares e eles envergonhados pedem agora desculpas. Mas que se riram, riram-se. Resta saber, de facto, de que se riam.
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